Ao final do meu curso de Administração na UNB, me candidatei a ser representante do colegiado - eleito com 80% dos votos dos colegas. Tomei posse no cargo representando - os e após encaminhar à comunicação ao Chefe do Departamento e este ao Magnifico Reitor, fui convidado de imediato a comparecer a Reitoria na Divisão de Segurança e Informações - DSI/UNB - para receber recomendações de como deveria me portar como representante dos discentes durante o período do meu mandato.
Fui recepcionado por um coronel, o qual de imediato me entregou o Decreto Lei 477 e disse: "Essas são as normas que o senhor deverá observar. Além do que estava escrito nas normas, o coronel olhou para mim e disse: “Prezado aluno Antônio Álvaro, no minhocão (local onde estava instalado o Departamento de Administração e sala da representação) se o senhor for encontrado em reunião com mais de quatro alunos será considerado comício e o senhor será enquadrado nas punições constantes nesse decreto”. Naquele instante tomei o maior susto e me veio uma revolta interior muito grande, e a partir daquele momento nunca mais fiquei tranquilo durante o meu mandato, prometi a mim mesmo que todo e qualquer colega que fosse preso ou perseguido eu usaria todas as minhas forças para apoiá-lo.
Na semana seguinte, em reunião com os colegas, transmiti as recomendações recebidas e passamos a nos reunir na minha república, independente do assunto, nós iríamos para o CO – centro olímpico - (local onde no campus existiam apartamentos para residência de aluno). Na época, uma das atribuições mais importantes desse cargo era coordenar toda indicação de estagiários para os órgãos públicos e entidades privadas cuja seleção eu fazia em conversa com os colegas, indicamos sete discentes para o órgão de preferência de cada um.
Em uma dessas comunicações com o departamento houve a solicitação de indicação de estagiário, para preenchimento de vaga na unidade do Ministério de Minas e Energia, denominada DSI, convoquei a todos e ofereci a vaga, para minha surpresa, apesar de ser paga uma boa remuneração, ninguém aceitou, hoje eu reconheço a atitude de coragem que tive, virei para os colegas e disse: “Amigos vou estagiar nesse órgão, nessa reunião estavam aproximadamente dez colegas, todos foram unânimes em reprovar de imediato minha atitude. Foi nessa hora, inspirado eu não sei por quem ou pelo quê, uma força estranha talvez, consegui convencê-los que a minha ida para este órgão iria facilitar e ajudar a localizar e identificar alguns dos nossos colegas que estavam desaparecidos, terminada a minha argumentação coloquei novamente em votação e fui aclamado por todos, dizendo que eu deveria realmente ir estagiar naquele órgão.
Ao me apresentar ao DSI do Minas e Energia fui recebido pelo Coronel Fortunato, o qual determinou que o meu estágio seria implantar o Sistema de Protocolo e controle do fichário. Uma das atividades desse órgão era analisar e autorizar todos os pedidos de autoridades e estudantes que fossem ao exterior a trabalho, fiquei durante 4 meses, implantei o protocolo e fiz uma relação de amizade com o Coronel Fortunato, fato que anos depois serviu para o meu ingresso na UFS. (Declaração).
Fato pitoresco
Durante a arrumação das fichas identifiquei uma carta que tinha chegado com destino ao chefe da divisão comunicando, que uma determinada pessoa por nome que a memória já não me permite lembrar, residente no Maranhão estava preso e não se sabia o motivo, visto que, não era comunista. Passados alguns dias chega uma nova carta insistindo que aquela pessoa não era comunista e nunca participou de reunião nenhuma, simplesmente estava em um colégio e levaram-na presa, já fazia dois anos que estava presa. Aquela carta me sensibilizou, fui ao coronel pedir para que fosse aprofundado a pesquisa a respeito daquela pessoa, como já estava familiarizado no serviço e com as pessoas e com o próprio Coronel, ele disse que tudo bem! Aprofunde as informações. Me dirigi ao chefe do setor de informações e fiz o pedido para pesquisar a respeito daquela pessoa, decorrido aproximadamente um mês, fui chamando pelo chefe do Setor de Informações que me deu uma noticia e me deixou feliz e emocionado, a ficha de filiação da pessoa presa, coincidentemente, tinha o nome do pai, o nome dele e uma diferença no nome da mãe, o dele era Santos e o da mãe era Cruz, foi aí que identificaram que se tratava de outra pessoa, ele foi preso por engano, o desenrolar dessa história foi só felicidade. Foi feito o oficio para a família e ele foi liberado lá mesmo de Brasília. Não pude identificar a família, mas fiquei com o coração radiante por ter ajudado.
Obs: Nessa época, a UNB era considerada pelo Regime Militar com o maior índice de alunos rebeldes, por isso, tínhamos que estar espertos, pois não era estranho, de repente estar estudando em sala de aula e um tenente do Exército, Marinha ou Aeronáutica estar disfarçado de aluno sem ninguém saber.
Outras histórias ocorridas neste ambiente guardo com tristeza em minha memória que irá para o túmulo, outras injustiças que presenciei e outras que pude ajudar guardo algumas com tristeza e outras com alegria, todos daqueles importantes momentos vividos, iram comigo para o túmulo.
Confira no link abaixo o documento na íntegra:
- Ministério de Minas e Energia